segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SPFW está para Milan como o Juvenal para Berlusconi


Um exemplo de administração.....

Olhar Cronico Esportivo

Emerson Gonçalves

As notícias que vêm do Morumbi são a cada dia piores, verdadeiramente assustadoras. Não me refiro ao futebol (que, aliás, não anda muito longe disso) e sim à política interna do São Paulo FC.

O clube, que recém-completou 75 anos de vida e é o mais novo dos grandes clubes brasileiros, está vendo sua rica história ser, literalmente, explodida.

Um golpe contra a instituição está sendo tramado às claras, em plena luz do dia, apenas para permitir e dar algum impossível foro de legitimidade a mais uma reeleição do presidente Juvenal Juvêncio.

Esse assunto já foi tema de post anterior e, desde então, cristalizou-se a situação. Embora ainda não lançada oficialmente, a candidatura JJ é certa.

O golpe a que me refiro é a convocação do Conselho Deliberativo, para votar, na noite da próxima terça-feira, dia 15, uma alteração no Estatuto Social do clube, de forma a dar à candidatura um simulacro de legalidade. Possível, claro, pois nada há que a inventividade humana na ânsia pelo poder não consiga. Tal medida, porém, em momento algum, sob hipótese alguma, conferirá a essa candidatura um mínimo que seja de legitimidade.

Alguns conselheiros que se opõem a esse fato, dizem, com algum otimismo, que cerca de cinquenta de seus colegas não endossarão essa farsa. Pouco, diante do total de 240 conselheiros que tem o clube e que, ao que parece, em sua esmagadora maioria aceitarão as perorações casuísticas e oportunistas do advogado Carlos Miguel Aidar em prol de mais um mandato para o atual presidente.

A esses conselheiros falta visão da história, tanto passada como recente, não só do São Paulo, como também de seus co-irmãos paulistanos, que até pouco tempo atrás eram vítimas de presidências quase vitalícias, semi-perenes.

Falta a esses conselheiros, também, a visão do futuro.

Quando um dirigente se perpetua num cargo, ele sacrifica a aparição e consolidação de novas lideranças, o que provoca, inevitavelmente, crises futuras e o empobrecimento da instituição.

Organismos sociais precisam de renovação de lideranças e de quadros, precisam do oxigênio que novas cabeças e novas ideias podem proporcionar. Em tempos passados até houve validade em algumas direções que ficaram por muito tempo no poder, mas isso é hoje um verdadeiro anacronismo, é uma prática que não coaduna com um mundo que se transforma e que tem nos regimes democráticos seus maiores expoentes. Regimes envelhecidos estão à frente de países com seu presente e futuro comprometidos. Uma rápida vista d’olhos aos jornais nos mostra isso em nações depauperadas ou em conflito na América, na África, na Ásia.

Curiosamente, ainda por cima, os conselheiros reconhecidos como sendo oposição, receberam a convocação somente ontem, com razoável atraso em relação aos demais, em maioria, reconhecidos como apoiadores da situação. Como disse, mera curiosidade e, certamente, ligeiro descuido da “expedição”.

Outra mera curiosidade: a mudança estatutária permitirá, também, a reeleição do atual presidente do Conselho Deliberativo.

O jovem São Paulo FC está sendo levado a esse caminho de chacotas, tristeza e atraso por seus dirigentes e conselheiros.

Mas há reações, felizmente.

Tenho tido a felicidade de acompanhar os esforços de um grupo de amigos, simples torcedores do clube, que se mobilizaram e tentam mobilizar uma parte que seja da torcida a manifestar-se contra isso.

Eles criaram o blog “Nem a Pau Juvenal!” e um abaixo-assinado contra a nova candidatura do atual presidente, documento que fiz questão de endossar tão logo foi ao ar.

Não são movidos por interesses outros que não seja o amor ao clube, o temor pelo seu futuro e a necessidade imperiosa de que a democracia e o estatuto do clube, em seu espírito e não em letras frias mudadas ao bel prazer de dirigentes de momento, sejam respeitados.

Durante anos a direção são-paulina jactou-se de seu avanço em relação aos demais clubes brasileiros. Descontado um certo exagero, havia muita verdade nessa afirmação. Isso, porém, parece ter sido sepultado em 2008.

Desde então, entretanto, tudo que vemos é uma derrocada conduzida por uma só pessoa, de forma personalista e absolutista, como soía acontecer em séculos passados, antes da Independência Americana, antes da Revolução Francesa.

Edson Lapolla lançou sua candidatura à presidência do clube em oposição a Juvenal Juvêncio. Não vou falar sobre ele, pois isso já foi feito pela imprensa de forma mais que suficiente. Basta dizer que ele reúne plenas condições para presidir o São Paulo em qualquer situação.

Gosto de política, considero-a uma arte ou uma ferramenta, como queiram, da maior nobreza. É graças à política que podemos viver e nos desenvolver como sociedade e como nação, aqui e em toda parte. Claro que, se a política é nobre, o mesmo não se pode dizer de todos que a praticam, o que é outra história, para outro momento.

Um dos motivos que, segundo dizem, leva muitos conselheiros a apoiarem mais um mandato para Juvêncio, é o fato dele ser importante para conduzir conversas e negociações com autoridades dos governos federal, estadual e municipal, principalmente em relação às obras previstas para o entorno do Estádio do Morumbi, e que serão ou já estão sendo realizadas, independentemente do estádio não ter sido escolhido para sediar os jogos da Copa 2014. Embora não concorde com essa tese, a meu ver de uma pobreza humilhante para uma instituição, como se ela tivesse uma única e solitária pessoa capacitada a falar em seu nome, posso dizer que ela tem uma certa validade. Diante disso, e pensando politicamente, perguntei a Lapolla, em conversa nessa semana, como ele encararia a presença de Juvenal Juvêncio à frente de uma comissão ou comitê ou um órgão do clube com qualquer outro nome, que tivesse a finalidade exclusiva de cuidar dos assuntos referentes ao estádio. Ele também já havia pensado nessa possibilidade, lembrando que o próprio ex-presidente Laudo Natel esteve, durante muitos anos, à frente de uma comissão cuja função era administrar e levar a cabo a conclusão do Estádio Cícero Pompeu de Toledo.

Essa postura joga por terra, portanto, qualquer argumentação nesse sentido a favor de Juvenal Juvêncio presidente. Ou seja, havendo vontade, abertura ao diálogo e um mínimo de sacrifício pelo clube, pela instituição, o presidente Juvenal poderia, sem problemas, seguir à frente desses trabalhos, ao lado de um presidente eleito de forma legítima, democrática e acima de tudo saudável.

Os péssimos resultados do time em 2009 e 2010 podem mascarar e confundir a oposição à nova candidatura do presidente Juvenal Juvêncio. São, contudo, coisas diferentes. Resultados esportivos, financeiros ou mercadológicos de um, dois ou seja lá quantos anos for, não devem sobrepujar-se aos princípios. Resultados vêm e vão, ora melhores, ora piores, mas princípios permanecem, são perenes, são para sempre.

São os princípios, o respeito ao Estatuto, o respeito à democracia, o amor ao clube que movem os criadores do blog “Nem a Pau Juvenal!”e do abaixo-assinado contra mais uma reeleição de Juvenal Juvêncio.

Finalmente, e não menos importante que tudo que já foi dito: o São Paulo FC, a exemplo dos outros grandes clubes brasileiros, é o que é graças ao futebol e, naturalmente, graças aos seus torcedores.

Milhões de torcedores que são os responsáveis, em última análise, pela grandeza desses clubes.

Milhões de torcedores que só podem contribuir financeiramente, direta ou indiretamente, com seu clube do coração.

Milhões de torcedores que não têm direito a voz e voto.

Milhões de torcedores que, a exemplo de clubes que de fato avançaram e abraçaram as exigências dos novos tempos, devem, sim, ter direito a voz e voto através de ferramenta como o sócio-torcedor, por exemplo.

2 comentários:

  1. Infelizmente é verdade. O São Paulo está jogando pela janela uma das suas vantagens estratégicas.

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  2. Pino, assim o servidor não aguenta. P... post comprido rapaiz !!!

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