segunda-feira, 28 de março de 2011

Rogério 100

O milésimo gol de Pelé, dizem, tinha que ser de pênalti, para que todos pudessem parar e olhar com atenção para o lance. O centésimo gol de Rogério, ele diz, tinha que ser falta. E todos pararam para olhar a história. A bola saiu do pé direito do goleiro para o ângulo. Algo único na vida de alguns poucos arqueiros, mas uma coisa que virou até corriqueira para o goleiro são-paulino. Quando ele entrou em campo ontem na Arena Barueri, foi ovacionado como de costume. No aquecimento, deixou escapar uma bola, saudou a torcida que esperava com faixas pelo centésimo tento. Antes de ter sua chance, fez uma defesa difícil. Quando Fernandinho sofreu falta na entrada da área, o estádio se levantou, grande parte dele certo de que a marca impensável até alguns anos fosse alcançada. O Corinthians pôs todos seus atletas na defesa. Uma barreira numerosa, um goleiro jovem e talentoso do outro lado, um tabu de 4 anos e 11 jogos nas costas, outro de nunca ter feito gol de falta no tradicional adversário. Foi tudo muito rápido, o chute, o voo de Júlio César e a bola estufando a rede. Uma loucura raramente vista em um gol tomou conta da arena que não é a casa são-paulina. O centésimo gol não veio no Morumbi, mas ninguém poderia imaginar cenário melhor para o feito. Rogério correu como louco, muito mais que nas outras 99 vezes, foi atacado por todos os companheiros, titulares, reservas, colegas. O Corinthians, pronto para a saída de campo, assistiu durante quase cinco minutos a uma bateria enorme de fogos, uma pilha de jogadores tricolores e a corrida de fotógrafos e câmeras para cima do goleiro que mais fez gols na história do futebol. O placar eletrônico, pouco antes da falta épica, parecia já se preparar. Tirou o parcial 1 a 0 do São Paulo e engatilhou um vídeo no qual apareciam mensagens para o arqueiro recordista. Uma contagem regressiva do 1 ao 100 foi iniciada e cantada pela maioria do público. Rogério não pegou a bola como Pelé no fundo do gol. O campo não foi invadido por uma multidão, mas a cena lembrou, entre outras, o memorável gol de Ronaldo contra o Palmeiras, quando ele derrubou o alambrado. Desta vez, o Corinthians é quem sofria um gol que era maior que a partida, maior que a disputa na tabela do Paulista, era a história. Higuita, Jorge Campos, Chilavert... Os goleiros que tanto ficaram marcados por gols e por suas personalidades folclóricas foram deixados bem para trás por um arqueiro sério que se empenhou desde 1997 a fazer a razão maior do futebol, o gol. A IFFHS, fria como a matemática, contabiliza 98 porque dois foram em amistosos. Mas foram inquestionavelmente 100, 56 deles de falta, muitos deles decisivos. O maior de todos, ontem. Nenhum gol, no entanto, foi como o deste domingo. Desta vez, o Corinthians é que sofria um gol que, deixou claro, era maior que o jogo, maior que a disputa na tabela, era a história.

6 comentários:

  1. Como no penalti de Pelé, a falta não foi falta!!!

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  2. Ninguém se lembra se foi ou não penalti. Mas todos sabem que foi contra o Vasco.

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  3. Apenas queria deixar registrado que não atendi os telefonemas de Gentil e Lucio nao por desdém, mas porque, por sorte, estou fora do país e não acompanhei em real time os acontecimentos tristes do último domingo.

    Só me resta parabenizar o Ceni pelo bonito gol e ao SPFW pela quebra do tabu.
    E, Gentilzão, como acredito que nos cruzaremos em algum momento das finais, proponho um zero ou dobra.

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  4. Gutão,

    Não te liguei para falar do jogo. Apenas ia te botar para falar com a Vanessa, Fábia, Gober, Chris, Lu...

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  5. Não é um mero post. É um poema épico.

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