quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O que se aprende na escolinha de futebol?

De primeira, já respondemos: dominar, passar, conduzir e chutar a bola, seja de bico, chapa, três dedos, com a direita ou a esquerda - técnicas elementares do futebol.

Já outros diriam que a escolinha é o local onde os mais habilidosos aprimoram dribles, como a “caneta” ou “rolinho” (passar a bola entre as pernas do adversário), o “lençol” ou “chapéu” (encobrir o adversário com a bola) e as contemporâneas “pedaladas”, imortalizadas por Robinho. Movimentos que, para alguns “entendedores” do futebol, não se aprende, só se desenvolve, pois dom é uma coisa com a qual já se nasce.

Para discutirmos a essa questão, no SESC SP buscamos os estudos da Ciência do Esporte, que divide o aprendizado esportivo em três grandes áreas: psicológica, física e social.

Conforme conceitua a ciência, em relação aos benefícios psicológicos, o esporte pode proporcionar o aprimoramento do comportamento humano por meio da liberação de sentimentos de agressividade, medo, frustração, repressão, satisfação, alegria e autoconfiança, cujo termo equivalente, atitude, já virou chavão no meio futebolístico: “para ser jogador de futebol tem que ter atitude”.

Quanto ao aspecto físico, evidenciamos os ganhos inerentes à inclusão da prática da atividade esportiva no dia-a-dia , como agilidade, flexibilidade, velocidade, força, desenvolvimento do esquema corporal, melhora da coordenação motora, equilíbrio e dominância lateral, atributos fundamentais aos grandes jogadores.

Do ponto de vista social, destacamos o desenvolvimento da compreensão da realidade, em que os modelos de ação e as regras sociais podem ser melhor entendidos e assimilados. Consideramos, ainda, a contribuição do aprendizado do esporte para as relações que as pessoas estabelecem em grupos, coma oportunidade de participarem em associações esportivas, de lazer ou de competição, na condição de espectadores ou torcedores.

Acreditamos que o maior legado da participação nas escolinhas de futebol é poder aprender ou desenvolver o gosto pelo futebol. E isso em todos os aspectos citados acima, seja como espectador ou praticante, usando este “gosto” para aprimorar questões ligadas ao convívio social, não só com os companheiros de prática, mas principalmente pelas relações estabelecidas durante toda a vida por meio deste esporte que faz parte da identidade nacional.

A cultura do futebol está tão enraizada no nosso dia a dia que muitas vezes apelidamos as pessoas pelo time para o qual torcem ou por alguma qualidade futebolística que elas têm. Utilizamos a rodada do campeonato do fim de semana para iniciar qualquer assunto na segunda-feira, o comentário sobre o jogo para nos aproximarmos do colega de trabalho, seja ele o amigo da mesa ao lado, o chefe ou o rapaz da correspondência.

Futebol é tema obrigatório, obsessivo no escritório, nos almoços de família, nas conversas com o vizinho. Pudera: somos a “pátria das chuteiras”, o presidente do nosso país usa com freqüência metáforas futebolísticas e o bate-bola é o feijão com arroz de nossas conversas.

Precisamos ter bastante cuidado quando matriculamos uma criança na escola de futebol com a esperança de que um dia ela se torne um “profissional da bola”. Esta é uma visão muito sonhadora, já que a probabilidade de que isso aconteça é muito pequena. Mas podemos ter uma certeza: se o trabalho for bem feito, a criança será um grande admirador do futebol, um grande jogador das peladas aos domingos e um adulto com boas noções de cidadania e fair play.

Na escolinha de futebol, o GOL tem que ser apenas um detalhe.

Esse é o texto que escrevi para revista do SESC SP, aceito sugestões, correções e contribuições.

4 comentários:

  1. Ótimo texto, Pino. Ficou bem legal.

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  2. Pinão....Muito legal!

    Aceita uma sugestão: seria legal abordar, na parte física, a idade mínima recomendada pra criançada começar nas aulinhas de futebol...

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  3. Bem legal Pinão...
    Eu tava trocando idéia com o Guto aqui em casa no dia do jogo Palmeiras x SPFC e conversavamos que, independente se o seu filho torce para o seu time ou para o rival, o mais importante mesmo é que ele goste de futebol e não se torne aquelas cianças "bunda-moles" que na hora do bate-papo futebolístico fica de escanteio e não consegue participar da turminha bacana do colégio.
    Eu acho que o GVC maior quando você entra pra uma turminha se dá graças ao futebol, rocknroll e putaria... o cara tem que gostar de pelo menos uma dessas coisas... hehehehehe
    O ideal mesmo é que ele goste das 3 coisas !!!
    Claro que um garoto descobre o futebol antes de descobrir o rocknroll, e depois de dominar as duas coisas aí ele está pronto para descobrir a putaria... hehehehehe
    Bom, comigo foi assim... comecei a gostar pra valer de futebol aos 3 aninhos... comprei meu primeiro disco do Iron Maiden aos 10... e mandei ver numa garota aos 14... hahahahaha
    Certamente tudo isso influenciou muito no meu social e hoje me orgulho da quantidade de amigos que fiz ao longo desses anos e todos vcs podem se incluir nessa história.

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